Sai La Niña, entra El Niño: impactos na agricultura e no setor segurador

Os extremos climáticos – seca, inundações, incêndios florestais, entre outros – continuam a gerar perdas inesperadas nos balanços das seguradoras e resseguradoras de todo o planeta.  Pior: a expectativa de trégua na instabilidade climática nesse ano está ameaçada, porque existe a possibilidade de a despedida de La Niña, após três anos de ação, ser acompanhada da reestreia do El Niño no segundo semestre do ano.

La Niña costuma produzir mais chuva na região Nordeste e estiagem no Sul do Brasil. El Niño é o contrário: provoca chuva excessiva com enchentes no Sul e agrava a seca no Nordeste. El Niño, olhando seu histórico, assegura as melhores safras do Sul brasileiro, dando destaque positivo ao agronegócio. Atribui-se à La Niña perdas de produtividade. Em fevereiro deste ano, 235 municípios do Rio Grande do Sul decretaram situação de emergência na Defesa Civil do estado, em virtude da falta de chuvas e de altas temperaturas.

Efeitos na agricultura e nos seguros

E o que isso tem a ver com o setor segurador? Tudo. O seguro Rural é uma boa métrica das perdas agrícolas causadas pelos extremos climáticos. A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) informa que as indenizações pagas aos produtores rurais superaram R$ 10,5 bilhões em 2022, aumento de 47,1% ante o mesmo período do ano anterior. Dois estados da Região Sul estão entre os três com as maiores perdas: Paraná, com R$ 3,3 bilhões, e Rio Grande do Sul (R$ 3,2 bilhões). São Paulo, no Sudeste, foi o terceiro a receber mais aportes das seguradoras que operam com o Rural, R$ 1,3 bilhão.

Por suas repercussões, o debate sobre as consequências dos extremos climáticos integra a 38ª. Conferência Hemisférica de Seguros, a Fides Rio 2023, por meio de um dos eixos temáticos chamado “Mudanças Climáticas: mitigação de riscos e desenvolvimento de novas soluções”. O evento internacional reunirá representantes de entidades de seguros privados de 20 países da América Latina, mais Estados Unidos e Espanha, no Rio de Janeiro, de 24 a 26 de setembro de 2023.

La Niña intensifica estiagem

Murilo Machado Lopes, meteorologista na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e integrante do Grupo de Meteorologia, explica que o principal fator responsável pelo problema da forte estiagem no Sul do Brasil são os índices de chuva que se mantiveram abaixo do esperado durante todo o último trimestre. “Quando a chuva ocorre é de forma muito irregular, apenas alguns locais tiveram alguma precipitação e outros não tiveram nada. Isso leva à condição de déficit hídrico”, afirma ele, em entrevista publicada na revista Arco, da UFSM.

Para ele, a estiagem vivenciada nos últimos três anos na região foi intensificada pelo evento La Niña. Tal fenômeno natural provoca um resfriamento das águas do Oceano Pacífico, causando mudanças significativas nos padrões de precipitação e temperaturas. O evento está diretamente relacionado com uma mudança nas condições dos ventos que sopram com mais intensidade e movimentam a superfície da água.

Informações precisas e relevantes para sociedade

Desde o ano passado, a UFSM produz um boletim climático mensal com informações detalhadas sobre precipitação, temperatura e ocorrência de fenômenos climáticos no estado. O objetivo é fornecer informações mais precisas sobre o contexto regional. Tais informações são relevantes para diversos setores da sociedade, sobretudo agricultura e meio ambiente.

A chegada do El Niño é caracterizada quando as águas da superfície do Pacífico Equatorial se tornam mais quentes do que a média e os ventos de Leste sopram mais fracos do que o normal na região. El Niño ocorre a cada três a cinco anos. Todos os países da América Latina devem se preparar para mudanças significativas causadas pelo fenômeno. Inicialmente, acredita-se que a instalação do El Niño afetará as costas do Peru e do Equador no começo do outono.