Fides Rio 2023: Cenário Macroeconômico e como ele pode afetar o negócio de seguros
O Relatório Global do Mercado de Seguros de 2022, levantamento da Associação Internacional de Supervisores de Seguros (IAIS), descreve os principais riscos e as tendências do setor no âmbito mundial. Esse relatório toma como base dados coletados perante os 60 dos maiores grupos de seguros internacionais, além de informações repassadas por órgãos de supervisão de seguros de todo o mundo, englobando mais de 90% dos prêmios emitidos no planeta.
O documento assinala que, embora o chamado risco sistêmico no setor de seguros global permaneça moderado no agregado, existe uma tendência ascendente. O risco sistêmico crescente tem a ver, em particular, com “aumento da exposição a ativos ilíquidos e difíceis de avaliar, derivativos de balcão, financiamento de curto prazo e ativos intrafinanceiros.”
Tais tópicos se encaixam nos debates da Fides Rio 2023 – conferência internacional do setor de seguros que se realizará no Rio de Janeiro em setembro – ao se relacionarem a um dos eixos temáticos do evento dedicado ao Cenário Macroeconômico e como ele pode afetar o negócio de seguros.
Recuperação em 2021 e aumento dos riscos a partir de 2022
O estudo da IAIS frisa que a solvência e a lucratividade do mercado segurador mundial apresentaram recuperação no exercício de 2021, relacionando este comportamento ao desempenho também promissor dos mercados financeiros. “A qualidade de crédito geral dos ativos das seguradoras é alta; no entanto, a exposição a ativos abaixo do grau de investimento aumentou. Em termos de medidas de solvência, várias seguradoras continuaram a recomprar ações e/ou resgatar dívida subordinada”, destaca o levantamento.
E continua a análise: “Outros emitiram capital e/ou dívida subordinada para fortalecer as posições de capital e liquidez. As medidas tomadas pelas seguradoras para preservar ou melhorar a lucratividade incluíram otimização da alocação de capital e gerenciamento de ativos e passivos, realização de ganhos em investimentos, transformação digital, diversificação de ofertas de produtos e fontes de receita e otimização de políticas de subscrição e preços”.
Observa que, desde 2022, “os conflitos geopolíticos, a inflação, o aperto da política monetária e a deterioração das perspectivas econômicas levaram a um aumento dos riscos de mercado, crédito e liquidez.” O levantamento joga luzes sobre três temas macroprudenciais identificados como áreas de supervisão prioritárias. Leia-se: perspectivas macroeconômicas mais baixas, alta inflação e aumento das taxas de juros.
Impacto dos juros altos e de mais inflação
Sobre os juros, seu aumento pode ter efeitos positivos nas posições de solvência das seguradoras de vida. Da mesma forma, aumentos rápidos nessas taxas de juros podem contribuir para expor seguradoras a riscos de liquidez, tendo em vista as chamadas de margem em hedges de taxas de juros ou resgates em massa de apólices.
No caso das seguradoras de propriedade, uma inflação mais alta aumenta as despesas e a gravidade dos sinistros, além de reavaliar as provisões. Nesse sentido, o relatório da IAIS, assinala que, globalmente, os supervisores aumentaram seu monitoramento e vigilância dos riscos para o setor de seguros decorrentes do ambiente atual, incluindo risco de crédito e risco de liquidez.
Private Equity
Outro eixo do estudo são as mudanças estruturais no setor de seguros de vida, incluindo o envolvimento de firmas de private equity, que aportam capital privado e se envolvem na gestão do dia a dia das organizações selecionadas. Segundo o relatório da IAIS, empresas de private equity atuam no setor de seguros por meio de investimentos, aquisições, parcerias, resseguros e outros acordos.
“Em certas jurisdições, as seguradoras envolvidas com empresas de private equity foram associadas a uma maior exposição a atividades como resseguro internacional e alocação de ativos para ativos complexos e ilíquidos – observando que essas atividades não são novas ou exclusivas para seguradoras envolvidas com private equity”, destaca o relatório.
Mudanças climáticas importam muito
O terceiro tópico do relatório se refere aos riscos relacionados ao clima. O documento constata a falta de progresso na redução das emissões globais de combustíveis fósseis, o que contribui para o aumento da transição e dos riscos físicos das mudanças climáticas no setor de seguros.
Nessa altura, a IAIS afirma que ajuda os supervisores a fortalecer sua compreensão do tipo e magnitude das exposições relacionadas ao clima no setor de seguros, a fim de informar respostas de supervisão eficazes. Segundo o relatório, as lacunas na proteção contra riscos relacionados ao clima são, em muitos casos, significativas, e os supervisores antecipam que continuarão a aumentar, portanto, o papel que os supervisores podem desempenhar para ajudar a lidar com as lacunas de proteção relacionadas ao clima.
Por fim, a IAIS afirma que continuará monitorando ativamente esses riscos do mercado global de seguros e refinará sua avaliação de risco sistêmico. Tanto que promoverá uma revisão trimestral regular do relatório, a partir desse ano, para acompanhar mais de perto esses efeitos. Também a partir de agora, a IAIS publicará um documento especial sobre risco cibernético.