Cepal projeta crescimento menor neste ano para América Latina e Caribe

As economias da América Latina e do Caribe enfrentam um cenário externo complexo em 2023, marcado pelo baixo crescimento da atividade econômica e do comércio mundial. Adicionalmente, às subidas das taxas de juro a nível mundial, somou-se a turbulência financeira observada no início de março, que acentuou a incerteza e volatilidade dos mercados financeiros. 

Embora as pressões inflacionárias tenham diminuído, as taxas de política monetária devem permanecer elevadas ao longo de 2023 nas principais economias desenvolvidas. Nesse contexto de crescentes incertezas externas e restrições internas, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) espera que a desaceleração do crescimento econômico se aprofunde na América Latina e no Caribe em 2023, atingindo uma taxa de 1,2%.

Tais tópicos se encaixam nos debates da 38ª Conferência Hemisférica Fides Rio 2023 – conferência internacional do setor de seguros que se realizará no Rio de Janeiro em setembro – ao se relacionarem a um dos eixos temáticos do evento dedicado ao Cenário Macroeconômico e como ele pode afetar o negócio de seguros.

Cenário Macroeconômico

Segundo a CEPAL, em 2023 os países da região voltam a ter um espaço limitado para a política fiscal e monetária. Tal como no resto do mundo, a inflação na região apresenta uma tendência decrescente e, embora se espere que o processo de subida das taxas de juro em vários países da região possa estar a chegar ao fim, os efeitos da política restritiva sobre o consumo privado e o investimento será sentido com mais força neste ano, dadas as defasagens com que a política monetária atua. 

Além disso, dada a recente volatilidade financeira global evidenciada pelos problemas bancários nos países desenvolvidos e dado que a inflação regional permaneceria em níveis ainda elevados em comparação com os vigentes antes da pandemia, ainda não se espera que um ciclo de flexibilização monetária se estabeleça na região.

Do lado fiscal, as autoridades têm pouco espaço de manobra, pois os níveis de dívida pública permanecem elevados. Em um contexto de alta demanda de gastos públicos, serão necessárias medidas para fortalecer a sustentabilidade fiscal e ampliar o espaço fiscal por meio do fortalecimento da capacidade arrecadatória e redistributiva da política tributária, alerta a agência.

Crescimento menor em 2023

A comissão regional das Nações Unidas estima que todas as sub-regiões apresentariam crescimento menor em 2023 em relação a 2022. A América do Sul crescerá 0,6% em 2023 (3,8% em 2022), o grupo formado pela América Central e México crescerá 2,0% (em comparação com 3,5% em 2022) e o Caribe (excluindo a Guiana) crescerá 3,5% (em comparação com 5,8% em 2022).

A América do Sul será afetada pela queda dos preços dos produtos básicos e pelas restrições ao espaço que a política doméstica tem para sustentar a atividade. A alta inflação tem impactado a renda real e está tendo efeitos sobre o consumo privado e o investimento nos países. Nas economias do Caribe, a desaceleração esperada em 2023 se deve principalmente ao fato de que a inflação afetou tanto a renda real, e com ela o consumo, quanto os custos de produção, com um efeito negativo na competitividade das exportações tanto de bens quanto do turismo.

Finalmente, para as economias da América Central e do México, embora o crescimento deste ano represente uma desaceleração em relação a 2022, em alguns casos houve revisões para cima em relação ao que a CEPAL previu no final do ano passado. Isso se deve à revisão para cima do crescimento dos Estados Unidos, principal parceiro comercial e primeira fonte de remessas de seus países, o que afetaria tanto o setor externo quanto o consumo privado. Além disso, os preços de energia mais baixos esperados para este ano em relação a 2022 atuariam a seu favor, uma vez que vários deles são importadores líquidos de energia.

A projeção de crescimento da região para 2023 está sujeita a riscos negativos, dada a possibilidade de que a turbulência no sistema bancário global -ou no sistema financeiro como um todo- possa reaparecer e se intensificar, o que resultaria em um aperto mais persistente do sistema financeiro mundial condições, com os consequentes impactos no acesso e custo do financiamento.

Junto com os riscos financeiros, persiste a incerteza sobre os efeitos – no mundo e na região – que o prolongamento da guerra na Ucrânia e o aumento da fragmentação geoeconômica podem ter sobre o crescimento econômico, os preços das matérias-primas e o comércio mundial.