Artista plástico, J.L percorre as ruas do Rio diariamente em busca do seu pão de cada dia desde o começo do ano. Não faz refeições regulares, mora numa comunidade dominada pelo tráfico de drogas, eventualmente é atendido numa unidade pública de Pronto Atendimento (UPA), por descontrole da pressão, e sonha com dias melhores, assim como todos os compatriotas argentinos que migram para o Brasil. No ano passado, a vinda de argentinos para o Brasil bateu recorde. Foram mais de 6,5 mil que cruzaram a fronteira e pediram residência fixa no País.
J.L ainda faz parte dos migrantes ilegais, mas seu processo de pedido de refúgio está em andamento no Brasil. O andarilho faz segredo dos percalços que enfrenta da única filha, também argentina, que mora em Foz do Iguaçu, no Paraná, após se casar com um brasileiro. Não quer atrapalhar a rotina do jovem casal nem interromper a felicidade da filha com preocupações que possam provocar avanço de uma doença incurável. Diagnosticada com “Síndrome de Marfan” desde os cinco anos, a filha, de 22 anos, pode morrer subitamente, dado o risco elevado de sofrer dissecção e rompimento de aorta, o que pode ser fatal. Médicos dizem que pessoas acometidas da doença não ultrapassam os 40 anos.
Vida que segue, diz J.L, de 50 anos, que fala por horas com a filha todos os dias porque há wi-fi pirata na comunidade. O custeio da doença da filha, o divórcio em 2022 e, definitivamente, a crise econômica profunda da Argentina acabaram o patrimônio do argentino que sonha em recomeçar no Brasil. Carrega uma mochila e hoje se oferece para trabalhos informais de pintura e eletricidade, ofícios que aprendeu na adolescência. A comunicação ainda é uma barreira, mas ele está matriculado numa turma de português em uma ONG que presta apoio a migrantes. O tempo dirá se o “Gringo”, como é conhecido na comunidade, fez a aposta certa.
Fides Rio 2023

Temas como demografia e migrações, e como eles impactam os negócios da indústria seguradora, estão no escopo dos debates previstos na próxima Conferência Hemisférica de Seguros, a Fides Rio 2023. O evento internacional acontecerá na cidade do Rio de Janeiro, de 24 a 26 de setembro.
Migrações tendem a se aprofundar, diz a ONU
Dados públicos revelam que a maior parte dos argentinos que migraram para o Brasil residem na região Sul. Dos 6.601 que migraram no ano passado, pouco mais de 30,5% residem em Santa Catarina, 16,3%, no Rio de Janeiro e 15,5%, São Paulo. São os três principais destinos da comunidade argentina. Especialistas destacam que a inflação fora de controle no país vizinho está arruinando a capacidade de consumo, provocando desalento e a pensar em um recomeço em outros lugares. O Brasil e o Chile são os dois principais destinos dos migrantes argentinos.
A migração internacional, segundo a ONU, deverá se aprofundar nas próximas décadas, puxada pelo envelhecimento da população mundial, pela queda dramática da taxa de natalidade em países desenvolvidos e em desenvolvimento, por extremos climáticos e tensões geopolíticas.