Temos uma janela de oportunidade no Brasil para recuperar a economia, inovar em mecanismos de financiamento e preparar mecanismos de proteção em relação a eventos climáticos extremos.
A avaliação foi feita pela diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade, Maria Netto, durante o painel “Desafios e perspectivas da agenda ESG no Brasil e na América Latina e o papel no setor de seguros” da FIDES Rio 2023.

“O mais importante é entender que eventos climáticos extremos não vão desaparecer e a intensidade deve aumentar”, afirmou. “O Brasil tem relativamente poucos eventos extremos, mas até por isso estamos menos preparados. Temos que nos preparar, acho muito importante a gente aproveitar essa janela de oportunidade”.
Resposta a eventos extremos
Netto considera que o setor de seguros e o governo têm que começar a parametrizar os riscos de eventos extremos. “Isso requer uma sofisticação na forma como respondemos a eventos e, aqui no Brasil, precisamos evoluir muito”.
No agronegócio, por exemplo, “o seguro brasileiro é bastante sofisticado para os fenômenos climáticos tradicionais, o que não é sofisticado é para esses eventos extremos, porque para isso não temos dados históricos, porque está mudando”, declarou.
Viabilizar investimentos contra esses eventos extremos é de interesse de todos, de acordo com Maria Netto, já que eles produzem impacto na vida das pessoas, na economia real e também impacto fiscal para o governo, por exemplo, ao reduzir recursos por frustração de safra, por exemplo. Além disso, “é de interesse do segurador também que o risco não seja lá em cima”.
Novos produtos levam a novos tipos de investimento
De acordo com a executiva, o setor de seguros pode trazer investimentos novos para transição energética, tecnológica e para o reflorestamento. O setor de seguros tem como contribuir para melhores mecanismos de securitização de carteiras para emitir títulos ligados a esse tipo de investimento e assegurar que o próprio setor de seguros não está muito exposto.
“Podemos ver como oportunidade de desenvolver novos produtos que podem levar a novos tipos de investimento”, disse. Maria Netto comentou que a blended finance, tipo de operação financeira híbrida que combina investidores e financiadores tradicionais em busca de retorno com outros que dispostos a dar recursos não reembolsáveis em benefício frequentemente voltados para fins ambientais, ainda não é algo tão desenvolvido no Brasil, o que teria como um dos motivos a regulação local.
Um diálogo a construir
“Precisamos de regulação para permitir a inovação financeira”, disse Maria, defendendo combinação de recursos. “Precisamos de diálogo de agentes como CNSEG, bancos públicos, investidores, bancos privados, CVM, porque existem muitas oportunidades de inovação”, afirmou, referindo-se à possibilidade de desenvolver novos produtos financeiros para investimentos verdes, que viabilizem tecnologias de energia renovável e reflorestamento. “É um diálogo ainda para fazer no Brasil.”
Segundo a executiva, no México e na Colômbia, é possível ver mais inovação. “Simplesmente financiamento de longo prazo ou linhas que temos no Brasil, não vão adiantar”, afirmou.
Ela observou que na América Latina a cobertura a esses eventos climáticos extremos é baixa e quando passam, tem um custo muito alto. Lembrou que muitas pessoas de baixa renda estão morando em lugares que não deveriam estar.