O gap de proteção do Brasil – estimado em R$ 420 bilhões (é a diferença entre perdas econômicas e perdas seguradas)- pode ser significativamente reduzido nos próximos anos, por meio de um conjunto de ações para dar maior protagonismo às seguradoras e às resseguradoras. A opinião é de Rodrigo Botti, diretor técnico e de operações do IRB (Re), no painel “Crescimento do mercado de seguros”, da programação da Fides Rio 2023.
Tomando como base um estudo EY (“Estudo de gestão de riscos, de agosto de 2023), Rodrigo Botti destaca a necessidade de ampliar a participação na oferta de seguros agrícolas(“deveríamos subsidiar o seguro e não o crédito agrícola”); de produtos voltados para catástrofes naturais; de proteção a bens públicos; de responsabilidade civil de veículos; de acidente de trabalho(o que requer a privatização); de planos de resseguro para saúde e fundos de pensão; e para seguro de vida. “Essas ações colaboram para reduzir o gap de proteção e aumentar ativos do mercado segurador como um todo”, assinalou ele, tendo em vista a maior abrangência dos planos de resseguros.

Hoje, grande parte dos negócios que contam com o resseguro é proveniente de grandes riscos no Brasil, um perfil que contraria a dinâmica dos mercados globais. No Brasil, os grandes riscos geram 39% da receita dos prêmios de resseguros; ao passo que, nos Estados Unidos, 9%. No ramo Vida, a participação no Brasil representa 7%, enquanto, nos mercados globais, chega a 27%.
No plano regulatório, há medidas que deveriam ser adotadas em favor do fortalecimento do mercado, a partir das resseguradoras. “Considerando a evolução do mercado de gestão de riscos, se faz necessário tornar o modelo atual mais adequado aos interesses do mercado local”, diz.
Isso inclui novas regras para que o capital ou garantias no país das resseguradoras façam frente às obrigações e compromissos assumidos no mercado brasileiro, como garantias para riscos catastróficos e aos bens públicos. Vale também a comprovação pelas resseguradoras estrangeiras de garantias associadas aos riscos assumidos, alinhados com as práticas de supervisão de bancos e seguradoras. Além disso, é preciso haver segmentação e supervisão considerando os grupos econômicos e não entidades isoladas.
O atual modelo traz forte avanço dos grupos seguradores verticalizados (com braço de resseguros), gerando desequilíbrio na concorrência entre companhias brasileiras e as múltis de seguros, entende ele. Esse modelo de expansão não é sustentável, porque envolve o crescente envio de remessas de recursos ao exterior. Segundo ele, o mercado de resseguro cresceu, mas essa alta foi puxada por grupos seguradores que mantêm o resseguro intragrupo. Ou seja, há um crescimento de baixa qualidade e afasta-se da estrutura comum nos mercados desenvolvidos.