Krugman vê alta na demanda por empréstimos para “investimentos verdes”

O prêmio Nobel de economia de 2008, economista Paul Krugman, fez um paralelo sobre a necessidade de grandes investimentos para combater a mudança climática e a manutenção de altas taxas de juros. Nos EUA, particularmente, o economista contou que trilhões de dólares deverão ser aplicados em projetos verdes nos próximos anos. “Haverá uma grande demanda por empréstimos de empresas. Talvez parte do que esteja causando essas altas taxas de juros hoje seja essa projeção de investimento, que é inexorável”. Ele fez palestra no terceiro dia de debates da Fides Rio 2023, a maior conferência hemisférica de seguros das Américas e Península Ibérica.

O economista disse que o momento atual é diferente do que ocorreu nos anos de 1980, quando o Fed (Banco Central norte-americano) também elevou as taxas de juros para controlar a inflação. Segundo ele, essa medida acabou gerando uma crise econômica e financeira não só nos EUA, mas também em países da América Latina. “Diziam que quando os EUA espirravam, a América Latina pegava um resfriado. Não estamos vendo isso dessa vez. A dívida do Brasil e da região está atrelada à própria moeda e não em dólar foi determinante para essas economias ficarem menos vulneráveis”, explicou.

Dyogo Oliveira, da CNseg, lembrou que a redução da inflação no Brasil, que no ano passado chegou a atingir 9% e hoje está em 4%, é positiva para a indústria de seguros e resseguros. Ele questionou Krugman, no entanto, se esse seria o momento ideal para afrouxar a política monetária no país. O economista disse que não saberia explicar com detalhes o caso brasileiro, mas que era preciso aguardar o curso da economia. “Eu diria que basicamente vencemos a guerra contra a inflação no pós-pandemia. Mas não vejo uma mudança drástica na taxa de juros. Nunca entendi direito porque o Brasil mantém altas taxas de juros. Nos EUA, na maior parte das vezes, a taxa de juros reais chegou a zero e o Brasil sempre esteve do lado oposto”.

China

Krugman falou também sobre a história da China, que ele considera fascinante. A economia chinesa foi construída nos últimos anos com base na destinação de cerca de 40% do PIB, modelo que vem perdendo efeito em função da queda das taxas de crescimento depois da pandemia. “Aquele crescimento heroico da China acabou. Eles precisam agora incentivar o consumo, é uma população que poupa demais, é cultural. Está difícil continuar investindo em grande escala. O problema na China é o desemprego de jovens e a solução encontrada pelo governo é parar de divulgar os números, o que não é um sinal positivo”.

O presidente da CNseg quis saber ainda a opinião do economista sobre a recente política de auxílio e distribuição de renda adotada pelo Brasil. “Eu não conheço o suficiente sobre o Brasil para saber se essas políticas são boas ou não. Sustentar o consumo parece ruim quando se pensa no futuro, mas às vezes é preciso fazer. Se é que houve uma lição da pandemia é que a rede de segurança implementada ajudou a reduzir a pobreza nos EUA. Pessoas precisam ter uma vida decente, em última instância. Não acho terrível o que está acontecendo no Brasil”.