O mundo passa por grandes transformações em geopolítica, clima e tecnologia e, nesse contexto, o Brasil tem papéis evidentes na região e no meio ambiente. O Brasil pode ainda ter, no nível geopolítico, um papel de apoiar a cooperação entre Estados Unidos e China, potências que competem entre si e podem vir a ter um confronto. O cenário foi descrito nesta segunda-feira (25/9) pelo primeiro-ministro britânico de 1997 a 2007, Tony Blair, respondendo a perguntas do presidente da CNSeg, Dyogo Oliveira, e da mestre de cerimônia Carla Vilhena no primeiro painel de speaker internacional da FIDES Rio 2023.
Atualmente dando consultoria sobre estratégia para países e líderes pelo Tony Blair Institute for Global Change, ele considera que Estados Unidos e China serão os dois gigantes do mundo, “talvez com a Índia em terceiro”. Os demais países tendem a se organizar em blocos, segundo Blair, porque seu poder individual é pequeno. Já há grande competição em relação a tecnologia, política e economia entre chineses e americanos e Blair vê “um possível confronto, por exemplo, sobre Taiwan”, que a China considera seu território.

Tony Blair chamou a atenção, porém, que não se deve ver as relações entre Estados Unidos e China como uma nova Guerra Fria, como nos tempos da União Soviética. Isso porque o comércio entre Estados Unidos e soviéticos era pequeno, enquanto a China atualmente tem grandes reservas em dólares americanos e o comércio entre os dois países é gigantesco. “Há espaço para cooperação e é aí que o Brasil, que é respeitado por ambos, pode desempenhar um papel [importante]”, disse. Lembrou que não é possível tratar de temas como mudança climática sem a China.
No evento no Rio, ele observou também que “o Brasil é o país mais importante” na região, “é potencialmente um líder do Sul global” e está “profundamente” dentro do debate sobre desmatamento. Além disso, a Conferência do Clima COP-30, em 2025, será em Belém do Pará. “Será um grande momento para o Brasil tomar a liderança”.
Ele considera que a COP-30 é uma oportunidade para se ter um plano de ação para colocar investimento em tecnologia digital e projetos de energia limpa. De acordo com ele, há dinheiro de fundos de pensão, de fundos de investimento e faltam projetos sólidos com taxas de retorno em energia limpa. Blair observou ainda que, em outra dimensão, para manter respeito internacional, um país precisa ir bem internamente.
Europa
Sobre a guerra na Ucrânia, Blair explicou que há países no Leste Europeu, como a Polônia, que temem serem os próximos “se a atual agressão for bem-sucedida”. Por isso, disse, a “Europa quer o fim da guerra, mas de uma forma que não premie uma agressão” e também não premie os líderes russos. “Tem que terminar de um jeito que a Europa se sinta segura”, afirmou. Ele admitiu, no entanto, que a Europa e mesmo a Grã-Bretanha dependem parcialmente da energia russa. O presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, observou que a guerra na Ucrânia impactou também o Brasil, um importador de fertilizantes daquela região.